Vítor E. Silva Souza

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Curriculum Vitae (CNPq Lattes) Google Scholar

O objetivo deste post é explicar, principalmente aos meus alunos de pós-graduação, o que é um Estudo Dirigido (ED).

Nos cursos de Mestrado em Informática e Doutorado em Ciência da Computação do Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI) da UFES, os alunos precisam cumprir créditos (respectivamente 24 e 36) em atividades curriculares, em sua maioria as disciplinas ofertadas pelos docentes do programa a cada semestre.

No entanto, parte destes créditos (6 no mestrado, 9 no doutorado) podem ser obtidos por meio de Estudos Dirigidos (EDs) que, segundo o próprio regimento do PPGI, “são atividades que visam atender aos interesses e necessidades individuais dos alunos, aprimorando a sua qualificação e contribuindo para o desenvolvimento da dissertação de mestrado e da tese de doutorado”. Um(a) aluno(a) de mestrado pode fazer dois EDs, enquanto o(a) de doutorado pode fazer três.

Se você já fez as contas, concluiu que um ED vale 3 créditos. Ainda segundo o regimento, nas disciplinas “01 (um) crédito equivalerá a 15 (quinze) horas-aula. Nos Estudos Dirigidos, 01 (um) crédito equivalerá a 30 (trinta) horas de trabalho sob efetiva supervisão docente.” Portanto, em cada ED, espera-se que o(a) estudante trabalhe 90 horas sob supervisão docente. Se fosse uma disciplina, isso equivaleria a 6 horas de aula por semana.

Mas como funciona, então?

Se você for meu/minha aluno(a) de pós-graduação, durante um semestre em que você estiver fazendo ED haverá sim um compromisso semanal (reunião) comigo. Porém, ao contrário do que o parágrafo anterior parece indicar, ele não será de 6 horas de duração (eu nem teria como). As 6 horas semanais de dedicação do(a) estudante são divididas em 1 hora de reunião comigo e 5 horas de trabalho dedicado ao ED ao longo da semana, na maior parte das vezes lendo artigos e outros materiais bibliográficos.

Note, então, que as tarefas passadas de uma semana para outra em um ED podem ser compatíveis com 5 horas de trabalho do aluno. Em termos de leitura de artigos científicos (boa parte do ED é dedicada a isso), considero razoável 2 artigos de conferência ou 1 de periódico por semana, considerando que, além de uma leitura cuidadosa, é importante gerenciar a bibliografia e fazer anotações (fichamentos, se quiser) para uso futuro.

A reunião de 1 hora deve ser usada, então, para se tirar dúvidas do que foi lido, de como aquilo se aplica com o trabalho sendo conduzido, quais os próximos passos, dar sugestões de encaminhamentos, etc. Muitas vezes estas reuniões podem ocorrer com a presença de outros membros do grupo de pesquisa que trabalham no mesmo assunto, levando também a uma troca de experiências.

Quais os objetivos dos EDs?

Visto que EDs são conduzidos em mais de um semestre (2 para alunos de mestrado, 3 para doutorado), eu proponho a seguinte organização do trabalho em termos dos objetivos de cada ED:

Estudo Dirigido I: o objetivo do ED-1 é encontrar um problema a ser resolvido e entender a fundamentação teórica necessária para trabalhar neste problema. Muitas vezes o trabalho de um aluno de pós-graduação já começa direcionado, porém é importante estabelecer com mais segurança uma deficiência existente na literatura atual. Para isso, será necessário entender a base de uma ou mais áreas de pesquisa (por exemplo, por meio de trilhas de conhecimento).

Estudo Dirigido II: o objetivo do ED-2 é analisar os trabalhos relacionados, comparando-os à abordagem proposta para a solução do problema encontrado. Ao final, é importante ter segurança de que a grande maioria (porque todas é algo difícil de garantir) das propostas similares à que está sendo trabalhada foram encontradas, estudadas e comparadas. Pode-se usar um mapeamento sistemático, dependendo do caso. Deve-se estabelecer a relevância do trabalho atual, mostrar que ele não é a “reinvenção da roda”.

No caso de alunos de doutorado, o ED-3 será adaptado às necessidades do(a) aluno(a) naquela altura do curso. A depender do andamento da pesquisa, pode ser necessário estudar mais fundamentação teórica ou buscar mais trabalhos relacionados. Assim, o ED-3 pode ser um novo ED-1, um novo ED-2 ou uma mistura de ambos. Pode-se, ainda, simplesmente trabalhar em outras fases do método estabelecido para aquela pesquisa (desenvolvimento da solução, experimentos, etc.).

O que deve ser produzido?

A recomendação a todos os meus alunos é de utilizar o LaTeX para escrita científica e gerenciar a bibliografia com o Mendeley, mantendo um arquivo BibTeX para ser usado com o LaTeX.

Sendo assim, o(a) aluno(a) deve produzir, utilizando um modelo LaTeX para relatório final de Estudo Dirigido, um relatório que descreva o que foi trabalhado ao longo do semestre, seguindo as instruções contidas no próprio relatório.

Para o que costuma ser feito no Estudo Dirigido I, o relatório deve conter, além da visão geral da pesquisa, um breve resumo de cada artigo estudado para formação do referencial teórico do trabalho. Este material costuma ocupar, para cada assunto do referencial teórico, de um a dois parágrafos em artigos científicos até uma seção inteira numa monografia (dissertação ou tese), portanto no relatório o(a) estudante pode escolher entre algo mais resumido ou mais detalhado.

Já para o Estudo Dirigido II, normalmente o relatório deve conter a lista de trabalhos relacionados (com suas respectivas citações bibliográficas), com um parágrafo curto para cada um deles, indicando: (a) um resumo daquela proposta relacionada; (b) como a sua proposta é diferente dela. Pode-se escrever mais de um parágrafo, porém sem exageros. Mesmo numa monografia, dificilmente se gasta mais do que 2 parágrafos com um trabalho relacionado, a menos que se tenha uma boa razão para tal.

O item (b) acima talvez seja difícil caso a sua proposta de trabalho ainda não esteja consolidada nesta altura do curso. Neste caso, pode-se indicar apenas qual é o “gap” de pesquisa que se pretende abordar (limitação das propostas atuais a ser atacada pela sua proposta).

Vale nota?

Sim! Ao final do período, eu preciso atribuir uma nota ao seu ED, que vai no seu histórico. Tal nota será baseada nos relatórios citados acima, bem como sua frequência nas reuniões semanais.