Depoimentos de um profissional do mercado de TI – Parte 1

Há alguns dias um aluno de Programação III me perguntou se eu tinha alguma dica do que ele deveria focar em termos de carreira em TI. Minha experiência de mercado é muito pequena: após formar, trabalhei com TI durante 1 ano e voltei à Ufes para fazer mestrado, encadeando um doutorado logo em seguida.

Lembrei, no entanto, que recentemente havia encontrado um amigo que trabalha com desenvolvimento de sistemas para uma empresa e, nesta ocasião, conversamos bastante sobre tecnologias usadas em seus projetos, dificuldade de achar bons profissionais, dentre outras questões de mercado. Enviei um e-mail pra ele, esperando alguma resposta rápida, mas ao invés recebemos (o aluno e eu) uma longa mensagem com várias reflexões interessantes para profissionais de TI (formados e, principalmente, em formação).

 

Obs.: para preservar a identidade, algumas informações foram trocadas por nomes genéricos, tipo Alfa, Beta, etc. Além disso, alguns links (Rails, Ruby, LinkedIn, Github, etc.) fui eu que incluí.


Eu não sou expert no mercado de TI como um todo, pois acompanho apenas o que rola na minha área propriamente, especialmente no mercado de Ruby on Rails (embora eu desconheça a situação específica desse mercado para Vitória), mas também acompanho um pouco do mercado de front-end.

Frequentemente eu vejo anúncios de vagas com salários acima de 5 mil para trabalhar com Ruby on Rails, sendo que alguns deles permitem trabalhar remotamente, como é o meu caso há 5 anos, embora eu seja exceção na Alpha, que é uma empresa de fora do ES que me contrata em regime de CLT, mas cujos funcionários trabalham no escritório na quase totalidade.

Se você se interessa por programação web com Rails, eu sugiro observar esses grupos no Facebook onde volta e meia aparecem algumas ofertas:

Para front-end:

Uma vez ou outra eu recebo uma proposta para participar de um processo seletivo por e-mail ou via LinkedIn… Normalmente eles me encontram no LinkedIn ou no Github e depois entram em contato. Acredito que se você criar presença nessa área o mesmo possa acontecer após um tempo.

Embora o Rails seja pouco usado no Brasil, ele virou uma febre nos EUA há alguns anos e ainda há muita demanda por esses profissionais, assim como em stacks Node.js, que também estão populares esses dias nos EUA. Confesso que não estou muito por dentro das tendências no Brasil, mas apostaria que o stack Java ainda é muito forte porque é no que as faculdades normalmente focam mais na última década e também o stack .NET devido ao lobby da Microsoft nas grandes empresas. Provavelmente há mercado também para PHP. Eu não estou por dentro de nenhum desses stacks para poder opinar a respeito, mas em termos puramente técnicos, esquecendo a questão do mercado, Rails e, especialmente, Ruby, permitem, na minha experiência, um desenvolvimento mais ágil de aplicações do que essas opções mais tradicionais.

Ao mesmo tempo em que a demanda por programadores Rails é grande nos EUA, o salário lá frequentemente gira em torno de 120 mil dólares anuais e não é incomum que diversas empresas busquem bons profissionais fora dos EUA pagando bem menos, levando vantagem das taxas de conversão em países mais pobres, como Brasil, Índia e outros. No caso do Brasil é ainda mais interessante que Índia porque normalmente os desenvolvedores tem mais qualidade, apesar de serem mais caros, e também porque a diferença de fuso horário entre NY e Brasil fica entre 1 e 3h apenas durante o ano. Se eles pagarem 15 mil mensais a um desenvolvedor brasileiro ainda é menos da metade do que eles gastariam contratando desenvolvedores locais, daí o motivo de ser comum esse tipo de contratação.

Para você ter uma ideia do mercado, essa outra empresa está pagando a partir de 3 mil CLT em São Paulo para um ano de experiência com Ruby: https://www.facebook.com/groups/423401764463960/permalink/762887880515345/.

Essa aqui oferece salários entre 3 e 6 mil para trabalhar remotamente: https://www.facebook.com/groups/423401764463960/permalink/723449514459182/.

No link dessa postagem é possível perceber que para front-end (em especial Angular) há outra posição na mesma faixa de valores: https://gist.github.com/gbmoretti/443ffa9c39afe2d10333. Não fala se é em regime CLT, portanto talvez não seja.

Em São Paulo essa empresa oferece 8 mil (salário médio) para um desenvolvedor full-stack: https://www.facebook.com/groups/423401764463960/permalink/738719532932180/.

8 mil também é o que paga essa outra empresa em São Paulo: https://www.facebook.com/groups/423401764463960/permalink/721501894653944/.

Essa estava pagando de R$ 60 a 80 a hora para trabalhar para uma empresa dos EUA remotamente: https://www.facebook.com/groups/423401764463960/permalink/727816870689113/.

Em Florianópolis estão pagando entre 5300 e 7000 nessa empresa: https://www.facebook.com/groups/rubyonrailsbrasil/permalink/902669666527212/.

Em Poços de Caldas, entre 1700 e 4700: https://www.facebook.com/groups/rubyonrailsbrasil/permalink/902580183202827/.

Para um desenvolvedor junior, essa tá pagando entre 3 e 4 mil em São Paulo: https://www.facebook.com/groups/rubyonrailsbrasil/permalink/900643370063175/.

Aqui pagam entre R$ 20 e 45 a hora para trabalhar remotamente: https://www.facebook.com/groups/rubyonrailsbrasil/permalink/898875923573253/.

Em Pinheiros, SP, pagam a partir de 6 mil PJ: https://www.facebook.com/groups/rubyonrailsbrasil/permalink/898303260297186/.

Esse é de 15 a 30 dólares a hora para trabalhar remotamente: https://www.facebook.com/groups/rubyonrailsbr/permalink/1715812062029085/.

Além do Facebook, há outros canais com vagas remotas:

Além dos sites de emprego tradicionais como LinkedIn e outros.

Nesse momento é bom que você perceba que investir em inglês é fundamental.

Acho que essas ofertas devem ajudá-lo a entender melhor o mercado, especialmente para Ruby, tanto em relação à quantidade de vagas, quanto à faixa salarial e experiências exigidas.

Como apostas de tecnologia que eu consideraria seguras para você estudar, independentemente de qual stack escolher eu destacaria JavaScript, inglês, SQL, HTML e CSS.

Caso decida-se pelo stack Microsoft, você não terá muita dificuldade em saber o que deve estudar. Normalmente será a pilha padrão deles, tipo MS SQL Server (ou talvez Oracle) e C# (.NET).

Por outro lado, se você for seguir um stack não Microsoft, apostas seguras para estudo são Linux e PostgreSQL (talvez MySQL ainda seja mais popular, mas eu recomendo fortemente PostgreSQL se tiver que optar por um). Outros requisitos comuns incluem Redis, ElasticSearch ou Solr, Memcached, MongoDB, entre outros.

Uma área que eu sei que há demanda e pouca oferta e que deve continuar crescendo é a área de desenvolvimento mobile, tanto de aplicações nativas (a pilha varia conforme o OS, tipo Android, iOS ou Microsoft), HTML5 ou aplicações híbridas. É uma área na qual eu não tenho experiência, mas sei que é muito promissora caso queira aventurar-se nela.

De um modo geral, há praticamente duas estratégias principais ou uma combinação delas. Ou você busca algo que você curta, no qual você acredita, que seria meio que uma aposta no seu futuro, ou você busca ajustar-se ao mercado atual, procurando os melhores salários… Eu particularmente sempre busquei trabalhar com tecnologias que considero superiores particularmente, o que significa restringir significativamente os leques no mercado. No entanto, a vantagem de se trabalhar com tecnologias que gostamos é que a gente se empenha mais em aprendê-las e com isso tendemos a nos tornar melhores profissionais. Ao se trabalhar com o stack mais comum no mercado há o risco de ficarmos obsoletos por trabalharmos em algo que não gostamos e com isso não evoluir, além, é claro, de que a oferta de programadores pode ficar muito grande e com isso reduzir os salários pela facilidade em ser substituído em uma empresa. Quanto mais exclusiva a tecnologia, menor a chance de conseguir uma vaga, mas ao mesmo tempo é menor também a chance de ser substituído o que também pode levar ao aumento da faixa salarial se a oferta dessas vagas aumentar…

Falando por mim, eu sei que viveria profissionalmente frustrado e infeliz se tivesse que trabalhar com Java ou se tivesse que trabalhar no Windows, então essa é uma questão um tanto pessoal mesmo.


Em breve publicarei um outro e-mail enviado pelo meu amigo nesta mesma conversa. Aguardem…