COMPUTAÇÃO E SOCIEDADE

 

O DESEMPREGO

 

 

 

“O desemprego afronta um direito natural das pessoas, comprometendo a felicidade social, a vida e a preservação da espécie”.

 

 

 

Podemos classificar o desemprego como sendo a diferença (negativa):

 

DESEMPREGO = OFERTA DE TRABALHO – NÚMERO DE TRABALHADORES

 

  

Desemprego e Globalização

Com o fim do socialismo nas décadas de 80/90, o capitalismo passa a ser um modelo cada vez mais forte na sociedade. Visando ao extremo apenas o lucro, empresas passam a se modernizar constantemente com máquinas e com redução do custo de produção, provocando demissões em massa de trabalhadores. Nesse sentido, o desemprego é classificado como um fator de eficiência para as empresas. No mercado global,  os executivos têm que modernizar suas empresas, para torná-las mais competitivas. Acaba nascendo uma triste disputa cujo prêmio é a cabeça do trabalhador e a melhor empresa é aquela que demitiu mais .

Com o avanço das telecomunicações e dos transportes que ocorreu na época, a Globalização crescia com uma velocidade muito alta, mudando o estilo de vida do mundo. Como a modernização do processo produtivo acontecia muito rápida, muitos trabalhadores não conseguiam se adaptar às novas regras, ficando então, “para trás no tempo”. Esses trabalhadores eram muitos, muito mais do que imaginamos . Tanto é verdade, que um grave problema nascia a partir daí , o chamado desemprego estrutural.

 

O desemprego estrutural

Não se tratava daquele desemprego provocado por recessões nas economias nacionais,mas sim, desempregos causados pelo fato de que as máquinas que surgiam eram capazes de substituirem dezenas de trabalhadores. E isso não muda, ou melhor, pode até mudar, para pior! Recentemente ,o ministro do trabalho, Jacques Wagner, comentou que esse novo desemprego, que também atinge os EUA e a Europa, é uma espécie de “câncer”e não apenas uma gripe passageira. Pesquisas são feitas, mas ninguém sabe como resolvê-lo. Nada sai do papel.

É uma questão dificil de ser estudada. A ecomomia cresce, mas o número de empregos não.

 

 

O jovem e o desemprego

            Eles fazem parte de 20% da população economicamente ativa do Brasil, mas são responsáveis por 44% do número de desempregados, ou seja eles são 1/5 da PEA mas são quase ½ dos desempregados. Percebemos vários fatores responsáveis por isso :

  1. As empresas alegam falta de experiência, e por isso, não contratam;
  2. Excesso de encargos sociais na contratação;
  3. Exagero nas despesas de demissão;

 

O desemprego no Brasil não poupa faixas etárias, mas a situação é agravada, quando a vítima é o jovem . Há duas décadas, quando o Brasil mergulhava numa crise por causa da divida externa, as vítimas do desemprego eram as pessoas de salários mais elevados, geralmente as pessoas mais velhas. Demitia um funcionário caro e contratava-se um mais barato, recém formado. O jovem estava sendo beneficiado com isso. Mas na década de 90, com a abertura da economia, outro tipo de corte nascia. As fábricas cortavam postos de trabalho indiscriminadamente, sendo as pessoas de salários altos, baixos (conforme citado anteriormente na parte de Globalização). As empresas visam obter o quadro de funcionários reduzidos e só contratam quando necessário, implicando em aumentar o número de jovens desocupados.

A tabela abaixo nos mostra dados coletados em recentes pesquisas de jovens que conseguiram ser bem sucedidos profissionalmente.

 

      O QUE ELES POSSUEM EM COMUM ?

 

Assunto 1 : A família :

 

RENDA FAMILIAR

65% vieram de famílias cuja renda é inferior a 7000 reais

PAI

65% têm pai com diploma de ensino superior

ESCOLA

70% estudaram a maior parte do tempo em colégios particulares

UNIVERSIDADE

52% cursaram faculdade pública

BOLETIM

50% obtiveram médias entre 8 e 10 na universidade

ESTÁGIO

53% não estagiaram durante os estudos

CIDADANIA

60% não realizam trabalhos voluntários

LEITURA

85% lêem menos de 10 livros não especializados em sua área de atuação por ano

 

 

Assunto 2 : A vida profissional:

 

ATUAÇÃO

88% são empregados e 12% possuem o próprio negócio

IDIOMA

80% possuem bom domínio do Inglês e 50 % falam outra lingua ,além do inglês

EXPERIÊNCIA

70% tiveram experiências profissionais apenas no Brasil

PÓS GRADUAÇÃO

70% fizeram especialização após a faculdade

PUBLICAÇÃO

50% publicaram artigos em revistas especializadas

OPORTUNIDADE

85% já sairam da universidade com propostas de trabalho

 

Percebe-se que hoje que o jovem, para não sofrer tanto com o desemprego, necessita ter um espírito empreendedor, capacidade de liderança, criatividade, capacidade de trabalhar em grupos e iniciativa; características fundametais para o atual mercado de trabalho.

 

 

A empregabilidade : uma solução para o desemprego?

            Imagine que , por um determinado motivo, você comece a revirar seus pertences em busca de papéis pessoais para a confecção de um currículo .É normal deparar com cursos que já foram feitos, com coisas novas que foram aprendidas e que com o passar do tempo, já tinham caído no esquecimento. Empregabilidade é isso: aproveitamento de potenciais existentes dentro de cada um de nós mas que não tivéssemos usando-os atualmente. Pode acontecer de que esteja dificil de arrumar emprego na área onde você atua, mas quem sabe, na outra área, que você já tem curso, conhecimento , esteja precisando de mão de obra ? Será que não vale a pena arriscar a mudar temporiamente, ou porque não, até definitivamente?

 

 

 

 

A outra ponta do desemprego

Conforme definido no início, o desemprego é a diferença (negativa) das ofertas de trabalho e o número de trabalhadores . Até aqui, foi analisado fatores que contribuem para a diminuição da oferta de trabalho, mas agora, iremos discutir fatores que contribuem para o aumento da mão de obra trabalhadora.

 

·            Aumento natural da população:

·            Ingresso de novas pessoas no mercado de trabalho : Se a renda familiar é reduzida devido a quaisquer motivos, como o próprio desemprego, é natural que os membros mais novos da família tendem a ingressar precocemente no mercado de trabalho agravando ainda mais a questão do desemprego. É aí que crianças param de estudar para procurarem emprego para ajudarem na renda familiar.

·             A “revolução feminina”: A inclusão de novas pessoas no mercado de trabalho não é apenas por causa da crise econômica.  De fato, a evolução social tem motivado muitos grupos a ingressar no mercado de trabalho, inclusive como forma de realização pessoal. Entre estes grupos, destaca-se a mulher que, libertando-se dos grilhões a que esteve presa durante muitos séculos, promoveu a revolução feminina e mergulhou na vida profissional para disputar, palmo a palmo, os postos de trabalho com os homens. Como há mais mulheres do que homens, a sua inclusão no mercado de trabalho gera um impacto político e econômico notável.

 

·    O alongamento da vida profissional : A permanência de pessoas em idade avançada no mercado de trabalho tem duas explicações. De um lado, o avanço científico, tecnológico e social, permite que as pessoas envelheçam com maior vigor e alcancem maior longevidade, mantendo boas condições de trabalho por mais tempo. Nada mais justo que desejem continuar no exercício da sua atividade profissional, até como saudável terapia ocupacional. De outro, a crescente depreciação dos salários e das aposentadorias, eventualmente, torna necessária a continuidade da sua vida profissional como forma de reforçar a renda familiar, adequando-a às necessidades.

 

Leis trabalhistas : evolução ?

O trabalhador, desde os tempos de Revolução Industrial(e até mesmo antes, na época do feudalismo, por exemplo), tinha péssimas condições de trabalho: trabalhavam 16 horas por dia, não tinham direito a férias, 13º salário, seguro desemprego, nada! Não haviam leis trabalhistas que os ajudassem. Durante a história, existiram muitas revoltas do proletariado em busca de melhores condições de trabalho. Grandes conquistas foram obtidas, como por exemplo a CLT (consolidação das leis trabalhistas), no período do Estado Novo na década de 30/40. A Constituição de 37 defendia férias anuais remuneradas, salário mínimo, 13º salário, descanso semanal. O trabalhador, nessa época, já poderia ter um documento, chamado de carteira de trabalho que passou a ser assinada, assegurando-o dos seus direitos e deveres. Nascia uma justiça do trabalho.

            Mas nos tempos atuais, devido a uma série de fatores ( já mencionados) o desemprego torna-se um problema nacional e internacional. As leis trabalhistas sofrem algumas modificações, dentre elas, merecem destaque aquelas proporcionadas pelo governo Fernando Henrique. Novamente, sentindo injustiçados, eles reclamam. Grande parte da população deixa de apoiar o governo, acreditando que o PT no poder resolveria a situação. Lula chega ao poder prometendo a inclusão de grande parte dos brasileiros no mercado e acabar com a fome no país. Mas com um ano de governo, a questão do desemprego não sofre mudanças notáveis.

            Não podemos dizer que as condições de trabalho não evoluíram. Deram-se muitos passos para frente , sim! Apesar de não podermos negar que passos para trás também existiram, como por exemplo o próprio desemprego, o aumento do período de trabalho (retardando a aposentadoria), além de outras coisas. Mas temos uma Justiça do Trabalho, algo que não se sonhava no passado.

 

                                   

Desemprego e Computação

            Muitos dizem que a computação é a vilã do desemprego, outros não. Na verdade, a computação acaba atuando dos dois lados, mas com ênfase maior do lado “vilão”. O processo de automação retira muito trabalho das pessoas, e muito delas não tem como acompanhar tais evoluções. A venda de produtos pela internet é um outro fator que contribui negativamente. Muitos vendedores tradicionais já passam a se sentir ameaçados com isso. A criação das máquinas fotográficas modernas já assusta o mercado dos filmes tradicionais. As bombas de gasolina automáticas, nas quais você mesmo abastece seu carro também já estão tirando o sono de muitos frentistas por aí. A questão das catracas eletrônicas nos ônibus, caixas automáticos em bancos, etc !

            Mas a computação também pode ajudar no outro lado. Hoje, o trabalhador, acima de tudo, tem que possuir informação e a Internet por todos os lados, ajuda bastante. Muitas pessoas trabalham em casa, enviando seus serviçoes pela Internet, outras trabalham montando páginas, há vários sites onde há cadastro para pessoas desempregadas se inscreverem em busca de uma nova vaga.

            Não dá para falar que a computação é vilã. Porque o computador sozinho não faz nem bem, nem mal a ninguém. Tudo o que ele faz, tem a mão do homem. Se ele tira um emprego, ele foi programado para isso. O que pode ser dito é que ela (a computação) está sendo utilizada de uma maneira incorreta, que se talvez ela tivesse sendo usada com outros objetivos, a questão do desemprego não estaria tão grave como hoje .

 

Luis Fernando Veríssimo comenta sobre o desemprego em “O mendigo do Banco Central”

 Os mendigos tradicionalmente ficam em portas de igreja porque supõe-se que
quem entra numa igreja dará esmola para ficar bem com Deus antes de visitar sua
casa e quem sai dará porque está cheio de espírito cristão. Mas um mendigo
moderno resolveu inovar, estudou atentamente o noticiário e foi fazer ponto na
porta do Banco Central, que estava dando dinheiro a quem pedisse. Foi um
fracasso.
Ninguém do Banco Central dava esmola. Passava terno azul, passava terno
azul e nenhum botava a mão no bolso. O mendigo leu mais um pouco do noticiário e
 decidiu mudar a tática. À mão estendida e ao olhar pedinte acrescentou um texto.
Quando passava alguém, dizia: ?Uma esmola, para evitar uma crise
sistêmica.? Os ternos continuavam passando, mas agora, pelo menos, olhavam para o
mendigo. Finalmente um não se conteve, parou e perguntou: ?Que foi que você
 disse???Uma esmola, para evitar uma crise sistêmica? respondeu o mendigo. E
continuou, já que começara a juntar gente para ouvi-lo: ?Se eu não levar
dinheiro para casa, minha mulher tem um ataque de nervos e bate em mim, e vamos os
dois para uma fila do SUS agravar o problema da saúde pública no Brasil com
 sérios reflexos na imagem do Governo e possíveis conseqüências a nível
ministerial, com o Serra, que todos sabem como pode ser chato, pedindo mais
 dinheiro para o setor. Meus dezessete filhos, sem ter o que comer, começarão a
assaltar, pondo em risco a vida de cidadãos e aumentando a exigência de
mais recursos para a segurança. Minha sogra, que é maluca, pode muito bem
cumprir a ameaça de pôr fogo no barraco, e o fogo fatalmente se alastrará por toda
a favela, criando um caos de dimensões inimagináveis que redobrará a cobrança de
mais investimento social por parte do Governo, além de espantar os
investidores internacionais?.
O pessoal do Banco Central estava se divertindo com o mendigo, mas ninguém
ainda botara a mão no bolso. Até que o mendigo arrematou: ?E com tanta pressão
sobre o Governo para dar dinheiro para o essencial, vai faltar dinheiro
para o Banco Central dar aos bancos?. Foi o que bastou. Com o horror estampado no rosto,
todos se cotizaram para dar uma grande esmola ao mendigo e acertar um esquema
de doações diárias.

 

Comentários da crônica de Luiz Fernando Veríssimo

Bem diz Veríssimo que o desemprego gera uma crise sistêmica, ou seja vários fatores em cadeia são desencadeados a partir deste problema central.

Com o desemprego, o desespero pela sobrevivência do indivíduo faz com que a ética, a moral, e o que socialmente é aceitável sejam descartados para dar lugar a formas ilícitas de se ganhar dinheiro suficiente, ou mesmo aumentar cifras desagradáveis como por exemplo o número de indigentes, congestionamento do sistema público de saúde e demais fatores como a violência.

É obvio que o desemprego é um problema de cunho social, mas raramente a sociedade pensa neste problema sem antes ter sido atingido diretamente ou indiretamente por ele. Por exemplo, quando o mendigo pediu esmola aos servidores do Banco Central, não foi lhe dado devida confiança, no entanto, ao tocar no assunto de crise sistêmica, onde cada um ao final também deveria arcar com o problema do desemprego de terceiro, foi lhe concedido devida esmola, no intuito de amenizar os problemas decorrentes do pedinte.

A crônica de Veríssimo foi muito feliz no que diz respeito ao desemprego, e chama a atenção para um ponto que quase ninguém percebe, o desemprego da pessoa ao nosso lado indiretamente pode nos afetar, e é nisso que precisamos centrar nossos esforços para que não haja realmente uma crise sistêmica na sociedade num geral.