UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
MATÉRIA Computação e Sociedade
PROFESSOR Flávio Varejão
COMPONENTES Michelle S. Stange e Suzana D. Bassani
TEMA Preconceito Racial
 

1. O que é o preconceito?

Por preconceito entende-se "o conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; julgamento ou opinião formada sem levar em conta os fatos que o contestam". Trata-se de um prejulgamento (em francês, préjugé), isto é, algo já previamente julgado.

É interessante notar o caráter de inflexibilidade que está embutido no termo: o indivíduo preconceituoso é aquele que se fecha em uma determinada opinião, deixando de aceitar o outro lado dos fatos.

É precisamente por isso que ninguém assume ser preconceituoso. Freqüentemente ouvimos as pessoas dizerem: "Eu não tenho preconceito, mas não gosto de negros". Temos aí uma evidente contradição: ninguém quer ser tachado de preconceituoso, pois essa palavra é pejorativa, mas a segunda parte dessa frase revela que o negro já foi julgado e condenado sem apelação.

O significado da palavra 'preconceito' segundo o dicionário AURÉLIO:
Preconceito: S. m. 1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. P. ext. Supertição, crendice; prejuízo. 4. P. ext. Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc.

2. Preconceito e História.

O preconceito está presente nas relações humanas desde a mais remota história da Humanidade. Durante todo seu processo de experiência de vida o ser humano vai incorporando valores, sentimentos, idéias, que vão se perpetuando na mente, muitas vezes em defesa de um modo de pensar e de viver que não é aceitável por todos. Esta é a base cognitiva do preconceito que se denomina estereótipo: um padrão mental de avaliação da realidade que se expressa através de atitudes, no preconceito propriamente dito.

O conceito de determinado objeto não é formado em nossa mente, apenas pelo seu caráter real, isto é, as impressões sensoriais imediatas, mas também pelas idéias pré-existentes acumuladas em nossa mente, que formam o estereótipo, por exemplo: "político", "mulher", "negro", "judeu", muitas vezes trazendo conotações equivocadas.

Trata-se de uma predisposição mental para pensar, sentir e agir, em relação a determinado tema, o que decorre de experiências pessoais, principalmente por imitação de conceitos dos pais, professores e amigos que já têm essa visão cristalizada. Portanto, o preconceito deve ser compreendido buscando-se a origem e a forma de divulgação das idéias nos grupos e na comunidade, além do modo pelo qual cada indivíduo as integra em sua própria personalidade. Modelos de comportamento, conceitos do que é certo ou errado vão sendo impostos, e vai ocorrendo um deslocamento entre a realidade e a imagem construída, gerando intolerância, injustiça, discriminação e até violência, como barreira ao progresso da Humanidade.

Há grande dificuldade em se conviver com as diferenças, pela estranheza e ameaça que o diferente nos causa, chegando até à concorrência e à competição (terrenos férteis para gerar e fazer crescer o preconceito). Cada um tem o direito de achar correto ou incorreto o que quiser, mas jamais de tirar oportunidade de outras pessoas.

Faz-se indispensável a luta contra a desinformação, como principal estratégia contra preconceitos de quaisquer origens ou características.

O conhecimento tem provado historicamente que é o grande vetor do progresso da Humanidade, em todos os tempos; e certamente pode ser um instrumento a serviço da convivência salutar entre os seres humanos, começando por nós mesmos, cada um no seu pequeno mundo, "desarmando-se", conscientizando-se de que o respeito à diversidade desfaz o preconceito, em prol da construção da paz no mundo.

3. Preconceito Racial

A comunidade negra está compreendida nos piores indicadores sociais, e isso é conseqüência de toda uma história de opressão e exploração da raça.

Segundo à Comissão Nacional Contra a Discriminação Racial:

   - 70 % dos negros trabalham em serviços não técnicos;
   - 80,9% das mulheres negras ganham até dois salários mínimos;
   - 62% dos homens negros ganham até dois salários mínimos;
   - 80% dos negros moram em favelas ou em locais insalubres;
   - 87% das crianças fora das escolas são negras;
   - somente 47% dos negros concluíram o segundo grau;
   - 40,25% dos homens negros são analfabetos contra 18,5% dos brancos;
   - somente 1% dos negros completam a faculdade;
   - a renda de uma família negra é de apenas R$ 689,00 contra a de uma família branca que é de R$ 1440,00.

A condição do negro no Brasil continua crítica. Segundo dados recentes do Observatório Afro-Brasileiro a partir do "Atlas de desenvolvimento Humano", o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da população negra brasileira ocupa a 107ª posição no ranking das Nações Unidas, enquanto o da população branca está no 46ª lugar; enquanto o rendimento familiar médio dos brancos brasileiros é de 2,64 salários mínimos, o dos negros não passa de 1,15 salários mínimos.

Esses dados apontam para uma idéia equivocada de que os patrões estão contratando brancos e negros para postos de igual responsabilidade. Isso não acontece. Negros e brancos recebem salários diferentes porque não ocupam os mesmos postos de trabalho, nem estão habilitados a fazê-lo. Para os negros que conseguem inserção no mercado de trabalho, sobram os cargos e funções menos qualificados, e ainda recebem rendimento médio 46% inferior aos não-negros. Isso acontece por diversas razões, a principal delas é que os negros simplesmente não conseguem chegar à universidade. Sem acesso à faculdade, os negros não se habilitam a um bom posto de trabalho, e relegados a funções secundárias acabam recebendo menos no fim do mês.

Para entender por que os negros não conseguem chegar à universidade, é preciso ir à origem do problema: mesmo depois de muita luta e rebeliões contra a opressão e a exploração do povo negro, após assinada a 'abolição' da escravidão em 1888, sem políticas públicas de inclusão, nascia uma legião de excluídos que foi jogada na extrema pobreza. Como são mais pobres, os negros estudam menos. Como estudam menos, eles permanecem na pobreza.

Portanto, a principal causa da desigualdade racial existente no Brasil hoje é o estado de pobreza em que vive a maioria dos negros e não simplesmente o fato de serem negros. Existe discriminação racial sim, mas não podemos dizer que essa é a principal causa da desigualdade. Com o passar dos anos, a população vem se conscientizando e deixando de ser tão preconceituosa.

Muitos estudiosos acreditam que a melhor maneira de reduzir a desigualdade é estabelecer cotas para negros na escola e no mercado de trabalho. É bem possível que a desigualdade seja diminuída. Nos Estados Unidos, por exemplo, o sistema de cotas nas universidades e na administração fez com que a classe média negra dobrasse nos últimos vinte anos. Mas será que com isso a população tornou-se menos preconceituosa? As chamadas "políticas afirmativas" podem produzir uma nova forma de disputa racial. Um candidato branco que perde um bom emprego não por ser menos capacitado mas porque a lei favorece o negro normalmente se considera injustiçado pela política de cotas. E nesse caso, a política pode ser vista como uma forma de preconceito, além do fato de passar uma falsa concepção de que os negros não são capazes de alcançar o sucesso senão por meio de tais favorecimentos, e isso acabaria gerando um preconceito ainda maior contra a raça.

Essa conclusão aponta para o real problema a ser resolvido hoje que é a desigualdade social. Acabando-se com esta, estaremos resolvendo a verdadeira causa da desigualdade racial. Portanto, ao invés de estabelecer cotas para negros na escola e no mercado de trabalho, o mais sensato seria estabelecer essas cotas para a população de baixa renda em geral, sendo esta branca ou negra. Assim estaríamos atacando a raiz do problema e evitando piorar ainda mais o problema do preconceito racial que vem diminuindo com o passar dos anos através da conscientização da população.

 
Vitória, 06 de fevereiro de 2004